quinta-feira, julho 31, 2008

Sintra Árabe



Boas tardes amigos(as), como devem de saber (ou não), eu sou do concelho de Sintra, vivo nessa zona desde que nasci e tenho uma ligação muito forte a Sintra.


Sintra é um concelho, enorme, cheio de contrastes e infelizmente com muitos problemas sociais e urbanísticos, mas que em compensação é um concelho cheio de história, tradição e lendas, carregado de misticismo e mistério.


Uma das maiores influências históricas em Sintra é a Árabe.


Os Árabes, ocuparam a Península Ibérica em 711 D. C. e ocupam Sintra em 713 D.C., sendo expulsos em 1147 D. C., quando da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques com a ajuda dos Cruzados.


É natural que 434 anos de ocupação, deixam um legado e influência muito grande na história de Sintra.


É sobre um desses aspectos do legado Árabe que vou falar, a Toponímia!



Os linguistas consideram existirem três classe de topónimos árabes que de diferentes modos entraram na Língua Portuguesa. Assim, para Sintra temos:


Topónimos de origem árabe (aqueles que possuem raiz árabe e que permaneceram com pequenas alterações desse radical):


Albarraque (Albarrak = "o brilhante" ou, para outros autores al-barraque, plural de al-barca = "solo duro");
Alcainça (al-kaniça = "a igreja");
Alcoruim ou Alcorvim (al-cairuáne = "o caimão");
Alfaquiques (alfaqueques, cargo muçulmano que designava o indivíduo que resgatava prisioneiros );
Alfouvar ( al-fauwara = "o bolhão");
Algueirão (al-guerame = "a gruta");
Almargem ( al-marge = "o prado");
Arrabalde (arabáde = "os subúrbios" );
Assafora (assahra = "Campina")
Azenha (aççania, isto é, "a nora");
Azoia (az-zavia = "o mosteiro");
Cacém (cacéme = "o que divide" );
Moçaravia (muçtarabe = "aquele que se tornou árabe");
Queluz ( qá-luz = "vale da amendoeira");
Mucifal ( maçfal = "o lugar que está em baixo");
Massamá (maçama = "o que está alto");
Meleças ( meliça = "o vazio");
Almoçageme (al-mesjide = "a mesquita")


Topónimos híbridos (resultantes da associação de dois topónimos, um árabe e um latino):
Alcolombal (da junção do artigo árabe "al" com a palavra latina "columbare", que significa pombal),
Alcobela ( do árabe "al- quibba" mais o sufixo "ela" ),
Almoster (o artigo "al" mais o termo latino " monasterium", que significa mosteiro).


Topónimos arábicos modernos (de raiz desconhecida, mas facilmente identificáveis com a etimologia árabe): Abonemar, Aljabafaria, Almornos, Almosquer, Alparrel, Alpoletim, Alvegas, Asfamil, Bogalho, Calaferrim, (o mesmo que Canaferrim, que daria mais tarde Penaferrim - S. Pedro de Penaferrim), Galamares, Mafarros (ou Nafarros), Magoito, Meleças, etc.


Deixo também uma pequena descrição de Sintra feita por um autor Árabe da época.


"(Sintra é) uma das vilas que dependem de Lisboa no Andaluz, nas proximidades do mar. Está permanentemente mergulhada numa bruma que se não dissipa. O seu clima é são e os habitantes vivem logo tempo. Tem dois castelos que são de extrema solidez. A vila está a cerca de uma milha do mar. Há aí um curso de água que se lança no mar e serve para a rega das hortas. A região de Sintra é uma das regiões onde as maçãs são mais abundantes. Esses frutos atingiam tal espessura, que alguns chegam a ter quatro palmos de circunferência. Acontece o mesmo com as peras. Na serra de Sintra crescem violetas selvagens. Da costa vizinha extrai-se âmbar excelente."


Ibne Abde Al – Mumine Al – Himiari

terça-feira, julho 29, 2008

O Quinto Império

Porque hoje me sinto muito metafísico e místico, aqui fica uma pérola da nossa literatura nessa área.

"O Quinto Império"

"Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda a idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião? "

Fernando Pessoa in "Mensagem"

segunda-feira, julho 28, 2008

Emos e Góticos proibidos na Rússia!!!... Anda tudo doido!!!

Boas tardes amigos(as), andava eu aqui nas minhas deambulações pela net, quando no site da NME, uma revista sobre música, descubro esta notícia!!!!
Muito resumidamente, esta notícia diz que o governo Russo quer proibir e controlar as bandas EMO e Góticas, os sites relativos a estas tendências e a utilização de vestuário EMO e Gótico nas escolas e edifícios públicos.
O governo Russo, diz que os adolescentes que aderem a estes estilos/tribos/ondas, são tendencialmente depressivos e suicídas!!!
Mas o que é isto????
Será que os legisladores Russos viram ou ouviram os legisladores Portugueses quando quiseram proibir os piercings??
Há milhares de pessoas em todo o mundo que aderem a estes estilos, identificam-se com a temática, com o visual, com a ambiencia, tal como outros adolescentes se identificam com o Hip-Hop, com o Reggae, com o Hard-Rock, ou como eu quando adolescente com o Grunge.
Além disso, há milhares de adolescentes com depressões e que se suicidam pelo mundo fora e não são todos EMOS ou Góticos, alias quase nenhuns, são todos adolescentes, ditos normais.
Uma pessoa é livre de ouvir a música que quer, vestir-se de preto ou amarelo, os governos e os legisladores não têm direito nenhum de controlar isso, são liberdades básicas de todos nós!
Sr. Putin deixe-se de maluquices e preocupe-se em tornar a Rússia num país verdadeiramente democrático e não uma fachada.
Coincidencia, foi que, quando descobri este artigo estava a passar um clip dos My Chemical Romance, que são a banda mais representativa do estilo Emo, por isso aqui fica um clip deles.
fiquem bem
Pipas


domingo, julho 27, 2008

O Grito da Gaivota

Meus amigos, este post, tem duas funções, a primeira é falar-vos de um livro que li, como habitualmente faço e a outra é prestar a minha homenagem à minha amiga Arco íris Negro, porque foi ela que me “obrigou” a ler esse livro e que depois de o ter lido fiquei finalmente a perceber e a entender o maravilhoso trabalho que ela tem, e o bem que faz a tanta gente por ter optado dedicar-se de corpo e alma a isso.
A ela o meu obrigado, por me fazer ver que as pessoas surdas são pessoas como nós, que são capazes de comunicar, falar, entenderem-se e serem entendidos por todos, tal como nós, graças à língua gestual, língua essa em que ela é profissional, sendo um elo de ligação entre as pessoas ouvintes e as pessoas surdas.
O livro em questão, chama-se “O Grito da gaivota” e é o testemunho na 1ª pessoa de Emmanuelle Laborit, surda profunda de nascença que se tornou numa actriz de sucesso em França.
Emmanuelle, cuja surdez só foi detectada aos 9 meses de idade, foi “obrigada” a seguir os métodos tradicionais de ensino e comunicação para os surdos, aprender a vocalizar e a ler lábios, até que um dia por casualidade os pais descobrem a língua gestual.
A partir daí, a sua vida muda radicalmente, ela sente-se presa por ser obrigada a seguir um tipo de comunicação restritivo, com o qual não consegue comunicar com os outros, visto que a língua gestual francesa era proibida nessa altura e com a indiferença da parte dos “ouvintes” que querem que os surdos, (as únicas pessoas com uma diferença que não é visível), sejam como eles e não aceitem a diferença.
Ela com essa revolta, tem uma adolescência conturbada e problemática, mas consegue dar a volta, ser uma activista dos direitos dos surdos e do reconhecimento da língua gestual.
Devido a essa luta e atitude, consegue seguir o seu sonho de infância, o teatro e tornar-se numa actriz de sucesso, recebendo inclusivé o prémio Moliére de revelação do ano, um dos mais importantes do teatro francês.
Como tinha dito no princípio do post, este livro abriu-me os horizontes, despertou-me para uma realidade que desconhecia, inclusivé houve partes no livro que de tão intensas que são, me trouxeram as lágrimas aos olhos.
Este é um livro que todos deviam de ler, não é muito grande, é bastante fácil de ler, não é tecnicista nem lamechas. É um relato verdadeiro e sentido, de uma jovem (escreveu o livro aos 22 anos), que tem uma perspectiva diferente do mundo.
Aqui fica a minha pequena homenagem às pessoas surdas e a todos os que os encaram como pessoas normais, com direito de escolha e de comunicação.
Deixo também um pequeno vídeo com uma entrevista que ela deu à televisão francesa, que contém um pequeno excerto de uma representação dela.
Fiquem bem
Pipas

P.S. Beijo grande Arco Íris e obrigado por me teres “obrigado” a ler “O grito da Gaivota”

"Ninguém fica para trás"

Boas amigos(as), hoje (sábado), finalmente após 35 anos, foram sepultados em Portugal três militares páraquedistas que perderam a vida na batalha de Guidage, na localidade com o mesmo nome na Guiné-Bissau durante a guerra colonial.
No dia 23 de Maio de 1973, os militares da companhia 121 de páraquedistas, José Lourenço, António Vitoriano e Manuel Peixoto, foram mortos nos confrontos com o PAIGC, sendo sepultados num cemitério improvisado na altura, e devido às vicissitudes da guerra foi impossível enviar os corpos para Portugal.
Passados 35 anos, graças aos esforço da Liga dos Combatentes e de Conceição Vitoriano, irmã de António Vitoriano, foi possível trazer de volta para Portugal os restos mortais dos três militares.
Hoje em Tancos, na Escola de Páraquedistas, os restos mortais dos três militares foram homenageados por actuais e ex páraquedistas, numa cerimónia carregada de emoção.
Após a cerimónia, os respectivos restos mortais foram encaminhados para as suas localidades de origem para aí serem sepultados.
Este acto, é de extrema importância, porque traz o tema da guerra colonial ao de cima, mais propriamente os Homens que lá combateram.
Todos nós sabemos que a guerra colonial, foi uma época negra da história recente de Portugal, que estávamos no lado dos “maus” e que foram cometidos muitos exageros e injustiças, de ambos os lados como (infelizmente) é normal numa guerra.
Apesar disso, deve-se respeitar e apoiar os Homens que lá combateram.
Homens esses, que deixaram as famílias a milhares de kilómetros de distancia, que foram combater, pegar em armas em países que lhes diziam que eram Portugal também, mas que só conheciam dos mapas das escolas, mataram e foram mortos, por um ideal que eram obrigados a respeitar e a obedecer e que depois do 25 de Abril, das indepêndencias dos países Africanos e da desmobilização, esse mesmo Portugal por quem lutaram, pouco ou nenhum apoio lhes deu, muitos deles feridos, mutilados física e psicológicamente têm sofrido na pele a indiferença e até mesmo a incompreensão por terem sido combatentes.
Para os páraquedistas, isto foi a concretização de um assunto pendente e da realização de uma das suas máximas enquanto soldados.
“NINGUÉM FICA PARA TRÁS”
Fiquem bem.
Pipas

quinta-feira, julho 24, 2008

A Tábua de Flandres

Olá amigos(as), anteriormente, fiz um post sobre um livro do Arturo Pérez-Reverte que é o “Clube Dumas” e no final do post, referi outro livro, que entretanto já tinha iniciado a leitura que se chama “A Tábua de Flandres”.
Este livro, vem na linha do “Clube Dumas”, uma história de mistério envolvendo um objecto histórico, neste caso um quadro, que se chama “A Partida de Xadrez” de um pintor Flamengo do séc. XVI, Peter Van Huys.
Tudo começa quando uma restauradora de nome Julia, descobre uma frase escondida no quadro, que coloca uma questão “Quem matou o cavaleiro?” e com isso dá-se inicio a uma sucessão de acontecimentos, que envolve a continuaçãodo jogo de xadrez cuja imagem é representada no quadro entre os protagonista da história e o “vilão misterioso” e a resolução de um crime ocorrido no sécXVI, apresentando um final delicioso.
De leitura fácil, este livro tal como os outro do Pérez-Reverte, é rigoroso tanto na parte histórica, como na parte técnica relativa ao mundo da arte, e mesmo em relação ao jogo e às regras do xadrez.
Comparativamente ao “Clube Dumas”, acho-o um pouco inferior, mas não lhe tiro o valor, um óptimo livro que nos faz passar um bom bocado.
Fiquem bem
Pipas


terça-feira, julho 22, 2008

"Pesadelo" - João Silva


Boa tarde, desde dia 17 deste mês que está patente a exposição de fotografia "Pesadelo", do fotojornalista Português João Silva na galeria do edifício do Diário de Notícias em Lisboa.
João Silva, é um fotojornalista nascido em Portugal, mas radicado na África do Sul, que ao longo dos anos, tem vindo a cobrir os diversos conflitos mundiais, as guerras do Iraque, Afeganistão, os problemas étnicos no Quénia, e principalmente as "desgraças" que afligem África.
Iniciou-se na fotografia aos 23 anos, integra os quadros do jornal Sul-Africano "The Star" e começa a ganhar notoriedade com a cobertura fotográfica diária da violenta luta entre partidários de Nelson Mandela e Buthelezi nos subúrbios de Joanesburgo logo após o fim do “apartheid”.
Actualmente João Silva é fotógrafo do "New York Times", jornal pelo qual fez a cobertura da guerra do Iraque, (que já lhe valeu uma menção honrosa do World Press News), e da agência de fotografias "PictureNET".
Para quem gosta de fotografia, e não só aqui fica esta sugestão, é uma forma de não nos esquecermos dos horrores que se passam por esse mundo fora.
A entrada é livre, por isso não há desculpa para não irem...
Deixo também a fotografia com a qual João Silva ganhou a menção honrosa da World Press Photo
Fiquem bem
Pipas


Joao Silva

Karadzic e a Justiça Internacional

Boas amigos(as), hoje acordei com a óptima notícia que o Radovan Karadzic, criminoso de guerra e antigo líder dos Sérvios Bósnios, tinha sido capturado pelas autoridades Sérvias.
Radovan Karadzic, foi responsável por inúmeros crimes de guerra e genocídio contra a população muçulmana da Bósnia-Herzegovina, entre 1992 a 1995, entre eles o massacre de Srebrenica em que morreram cerca de 8000 muçulmanos Bósnios.
Desde 1996 que Karadzic e Ratko Mladic, (ainda não capturado), o chefe dos militares Sérvios-Bósnios andavam em fuga e na clandestinidade ajudado por redes de Sérvios-Bósnios radicais, que infelizmente ainda existem.
Após a sua detenção, foi presente a um juíz de instrução Sérvio que já ouviu as suas primeiras declarações e espera-se a chegada de um procurador do Tribunal Internacional Penal de Haia, tribunal esse que o vai julgar pelos seus crimes contra a Humanidade.
Este foi um passo muito importante para a reconciliação Sérvia com a Europa e um dos requisitos para a sua entrada na União Europeia. Para além disso é igualmente um passo muito importante para a justiça internacional.
O que nos remete a outro tema!
Justiça Internaciona!
É claro que a prisão de Radovan Karadzic é importante, ele ordenou, incentivou e participou em crimes de guerras e genocídios, tem de ser responsabilizado e condenado por esses actos.
Mas e os outros?
Porque razão os Estados Unidos não reconhecem o Tribunal Penal Internacional?
Porque razão Robert Mugabe e outros líderes e déspotas Africanos e não só se passeiam impunemente em visitas de estado, a outros países, gastando rios de dinheiro e nada lhes fazem, enquanto o povo dos países deles morrem de fome?
Acho que não deve de haver dois pesos e duas medidas, a criação do Tribunal Penal Internacional foi uma coisa boa, agora há que pô-lo a funcionar, mas de maneira convincente e cega, tal como a justiça deve ser, não apenas para servir os interesses de alguns e manter uma fachada de povos civilizados e respeitadores dos Direitos Humanos.
Fiquem bem
Pipas

domingo, julho 20, 2008

Kumpania Algazarra

Quero dar-vos a conhecer, caso ainda não conheçam, uma banda aqui da minha zona (Sintra), que são os "Kumpania Algazarra".
Esta banda, é muito interessante, porque têm uma filosofia e uma forma de estar e actuar muito própria.
As influências desta banda são a World Music, mas principalmente a da zona dos Balcãs, sendo notória a parecença com a banda "Emir Kusturica and the No Smoking Orchestra"
Os Kumpania Agazarra, geralmente actuam na rua, tendo uma interacção directa com as pessoas, fora do normal, criando uma onda de energia, bem estar e alegria em redor delas.
O vídeo que aqui mostro, foi gravado na festa do Avante e tem pouca qualidade mas dá para se ter uma ideia do que eles são.
Fiquem bem
Pipas



300 e Carmina Burana

Olá, aqui fica mais um vídeo interessante.`
É um trailler do filme "300", filme esse, que a meu ver está muito interessante, e que juntamente com o "Sin City", conseguiu passar para o ecrán de cinema, o espírito e a ambiencia de uma obra-prima das "Graphic Novels" das comics Norte-Americanas que é o "300" do grande Frank Miller.
Este trailler, tem como banda sonora uma música maravilhosa que é o "O Fortuna", da obra "Carmina Burana" do compositor Carl Orff, o que enaltece ainda mais o espírito épico do "300".
Espero que gostem.
Pipas



sexta-feira, julho 18, 2008

Parabéns Mandela!!!!


Parabéns Mandela, 90 anos de uma vida que serve de exemplo a toda a gente!!!
Pipas

Cerveja e música

Hoje junto dois em um!
Deixo-vos com o novo anúncio da cerveja Super Bock, versão integral, que está espectacular, juntamente com a música que lhe serve de banda sonora e que eu gosto bastante, "The Story" da Brandi Carlile.
Espero que gostem também.
Fiquem bem.
Pipas.




quarta-feira, julho 16, 2008

Abu Novas e trocadilhos


Boa tarde amigos(as).
Todos nós, achamos graça às letras cheias de trocadilhos sexuais das músicas de Quim Barreiros e outros músicos populares do género.
Perguntam vocês, o que é que eu quero dizer com isto?
Apenas quero mostrar-vos, que este tipo de “brincadeira” com as palavras já é muito antiga, e como exemplo disso vou deixar-vos um poema de um autor árabe que viveu no Califado de Bagdad entre os anos de 750 d. C. a 813 d. C. que se chamava Abu Novas, para poderem constatar esse facto.
Fiquem bem.
Pipas

“Deus sabe que ninguém tem
Instrumento igual ao meu:
Venham medi-lo e hão-de ver
O tesouro que El’ me deu.
Tomai-o – isso! – na mão:
É meu timbre de valor.
Quem o gosto lhe descobre
Sucumbe de terno ardor.
Tão alto como um pilar
(como um pilar não encolhe)
Visto ao longe na distancia
De qualquer lado que se olhe.
Venham pegar, e apertá-lo
Com força na vossa mão.
E levai-o à vossa tenda,
Entre onde os montes estão.
Sêde vós a lá guardá-lo
Com vossa mão cuidadosa.
Vêde quanto ergue a cabeça
Como bandeira orgulhosa!
Nem dareis por sua entrada,
Tão corajoso ele avança!
Jamais pende como a vela
Quando o vento se descansa.
Que el’ seja asa da panela
Entre as pernas escondida,
Tão vazia desde o fundo
Até à borda cingida.
Venham ver a maravilha
Que logo se ergue tão pronta!
Tão rara e tão portentosa,
Tão rica de bens sem conta!
E vejam como endurece
Tão forte e tão magistral:
É coluna dura e longa
De uma força sem igual.
Se quereis pega segura,
Ou colher que bem remexa,
Outra melhor não tereis
Para panelas sem queixa.
Pegai nesta – que ela esteja
Na vossa panela ardente,
Lá onde só um instrumento
Haverá que vos contente!
Nem sonhais – amores – o gosto
Que vos dará tal espada,
Mesmo em panela de cobre
Ou de prata chapeada.

Tradução: Jorge de Sena

terça-feira, julho 15, 2008

"Demanda do Santo Graal"

Olá amigos(as), hoje vou deixar-vos aqui um pequeno extracto de uma preciosidade dos primórdios da nossa literatura, com a respectiva introdução.
Trata-se de um extracto do livro da Demanda do Santo Graal, romance de cavalaria que desde os tempos da Idade Média até aos dias de hoje, continua a fascinar e a alimentar a imaginação de todos nós, com as suas personagens lendárias, o Rei Artur; Lancelote; Guinevera, etc.
Este extracto e respectiva introdução foi retirada do site sobre literatura Portuguesa “Projecto Vercial”, que aconselho a todos, darem uma vista de olhos.
O texto, que por estar em Português antigo, e em conjunto com a estrututa do mesmo, própria da época, não é de fácil leitura., mas é sempre bonito de se ver como era a literatura, em especial a prosa do início da nossa cultura.
Espero que gostem ou achem interessante.
Fiquem bem
Pipas

“A Demanda do Santo Graal é a adaptação e a tradução das novelas francesas que tinham como tema as aventuras do Rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda. Entre esses cavaleiros, sobressaem Lançarote do Lago, Boors de Gaunes, Galvão, Perceval e Galaaz. Este último era filho de Lançarote e tinha por missão encontrar o Santo Graal, isto é, o vaso onde fora recolhido o sangue de Cristo na cruz e que estava escondido no castelo de Corbenic, na Britânia. O manuscrito português encontra-se na Biblioteca Nacional de Viena (catalogado com o número 2594) e contém várias redacções feitas entre os séculos XIII e XV. É considerado o mais fiel e o mais completo de todos os que contêm as novelas do chamado Ciclo Bretão.
Edições da obra: Augusto Magne, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1944; Augusto Magne, Rio de Janeiro, 1955-1970, 2 vols.; Joseph Maria Piel, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1988; Irene Freire Nunes, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1995.”


DEMANDA DO SANTO GRAAL
(extracto)
Véspera de Pinticoste foi grande gente assüada em Camaalot, assi que podera homem i veer mui gram gente, muitos cavaleiros e muitas donas mui bem guisadas. El-rei, que era ende mui ledo, honrou-os muito e feze-os mui bem servir; e toda rem que entendeo per que aquela corte seeria mais viçosa e mais leda, todo o fez fazer.
Aquel dia que vos eu digo, direitamente quando queriam poer as mesas – esto era ora de noa – aveeo que üa donzela chegou i, mui fremosa e mui bem vestida. E entrou no paaço a pee, como mandadeira. Ela começou a catar de üa parte e da outra, pelo paaço; e perguntavam-na que demandava.
– Eu demando – disse ela – por Dom Lançarot do Lago. É aqui?
– Si, donzela – disse üu cavaleiro. Veede-lo: stá aaquela freesta, falando com Dom Gualvam.
Ela foi logo pera el e salvô-o. Ele, tanto que a vio, recebeo-a mui bem e abraçou-a, ca aquela era üa das donzelas que moravam na Insoa da Lediça, que a filha Amida del-rei Peles amava mais que donzela da sua companha i.
– Ai, donzela! – disse Lançalot –que ventura vos adusse aqui, que bem sei que sem razom nom veestes vós?
– Senhor, verdade é; mais rogo-vos, se vos aprouguer, que vaades comigo aaquela foresta de Camaalot; e sabede que manhãa, ora de comer, seeredes aqui.
– Certas, donzela – disse el – muito me praz; ca teúdo e soom de vos fazer serviço em tôdalas cousas que eu poder.
Entam pedio suas armas. E quando el-rei vio que se fazia armar a tam gram coita, foi a el com a raïa e disse-lhe:
– Como leixar-nos queredes a atal festa, u cavaleiros de todo o mundo veem aa corte, e mui mais ainda por vos veerem ca por al – deles por vos veerem e deles por averem vossa companha?
– Senhor, – disse el – nom vou senam a esta foresta com esta donzela que me rogou; mais cras, ora de terça, seerei aqui.
Entom se saío Lançarot do Lago e sobio em seu cavalo, e a donzela em seu palafrem; e forom com a donzela dous cavaleiros e duas donzelas. E quando ela tornou a eles, disse-lhes:
– Sabede que adubei o por que viim: Dom Lançarot do Lago se irá comnosco.
Entam se filharom andar e entrarom na foresta; e nom andarom muito per ela que chegarom a casa do ermitam que soía a falar com Gualaz. E quando el vio Lançarot ir é a donzela, logo soube que ia pera fazer Gualaaz cavaleiro, e leixou sua irmida por ir ao mosteiro das donas, ca nom queria que se fosse Gualaaz ante que o el visse, ca bem sabia que, pois se el partia dali, que nom tornaria i, ca lhe convenria e, tanto que fosse cavaleiro, entrar aas venturas do reino de Logres. E por esto lhe semelhava que o avia perdudo e que o nom veeria a meude, e temia, ca avia em ele mui grande sabor, porque era santa cousa e santa creatura.
Quando eles cheguarom aa abadia, levarom Lançarot pera üa camara, e desarmarom-no. E vëo a ele a abadessa com quatro donas, e adusse consigo Gualaaz: tam fremosa cousa era, que maravilha era; e andava tam bem vesådo, que nom podia milhor. E a abadessa chorava muito com prazer. Tanto que vio Lançarot, disse-lhe:
– Senhor, por Deos, fazede vós nosso novel cavaleiro, ca nom queriamos que seja cavaleiro por mão doutro; ca milhor cavaleiro ca vós nom no pode fazer cavaleiro; ca bem crcemos que ainda seja tam bõo que vos acharedes ende bem, e que será vossa honra de o fazerdes; e se vos el ende nom rogasse, vó-lo devíades de fazer, ca bem sabedes que é vosso filho.
– Gualaaz – disse Lançalot – queredes vós seer cavaleiro?
El respondeo baldosamente:
– Senhor, se prouvesse a vós, bem no queria seer, ca nom há cousa no mundo que tanto deseje como honra de cavalaria, e seer da vossa mão, ca doutra nom. no: queria seer, que tanto vos auço louvar e preçar de cavalaria, que nenhüu, a meu cuidar, nom podia seer covardo nem mao que vós fezéssedes cavaleiro. E esto é üa das cousas do mundo que me dá maior esperança de seer homem bõo e bõo cavaleiro.
– Filho Gualaaz – disse Lançalot – stranhamente vos fez Deos fremosa creatura. Par Deos, se vós nom cuidades seer bõo homem ou bõo cavaleiro, assi Deos me conselhe, sobejo seria gram dapno e gram malaventura de nom seerdes bõo cavaleiro, ca sobejo sedes fremoso.
E ele disse:
– Se me Deos fez assi fremoso, dar-mi-á bondade, se lhe prouver; ca, em outra guisa, valeria pouco. E ele querrá que serei bõo e cousa que semelhe minha linhagem e aaqueles onde eu venho; e metuda ei minha sperança em Nosso Senhor. E por esto vos rogo que me façades cavaleiro.
E Lançalot respondeo:
– Filho, pois vos praz, eu vos farei cavaleiro. E Nosso Senhor, assi como a el aprouver e o poderá fazer, vos faça tam bõo cavaleiro como sodes fremoso.
E o irmitam respondeo a esto:
– Dom Lançalot, nom ajades dulda de Galaaz, ca eu vos digo que de bondade de cavalaria os milhores cavaleiros do mundo passará.
E Lançalot respondeo:
– Deos o faça assi como eu queria.
Entam começarom todos a chorar com prazer quantos no lugar stavam.

Demanda do Santo Graal, fl. I, ed. de Augusto Magne, 1955-1970.





segunda-feira, julho 14, 2008

Sweet About Me

Gosto muito da voz desta rapariga, Gabriella Cilmi, com esta música Sweet About Me.

Fiquem bem!

Pipas

quinta-feira, julho 10, 2008

Royal Navy Field Gun Competition




Boas, amigos(as), venho mostrar-vos uma competição realizada na Inglaterra, que já acabou a nível oficial, que era o Royal Navy Field Gun Competition.

Esta competição, como devem de se ter apercebido devido ao título, é uma competição realizada pela Marinha de Guerra Inglesa e recria um acontecimento protagonizado pela "Royal Navy" no início do séc XX, na África do Sul durante a guerra dos Boers, em que as forças do exército Inglês, em menor número, ficam cercadas pelas forças Boers na cidade de LadySmith e é enviada uma força expedicionária de marinheiros com os respectivos canhões das suas fragatas que se encontravam ao largo da Cidade do Cabo, por terra, atravessando milhares de kilómetros a pé, ultrapassando toda a espécie de obstáculos e dificuldades, acabando por conseguir libertar do cerco a cidade de LadySmith.

A "Royal Navy" pegou nesse acontecimento histórico e criou esta competição que opõem várias unidades da mesma, recriando essa viagem e as formas engenhosas que os marinheiros usaram para ultrapassar esses obstáculos.

Infelizmente a última competição oficial, foi esta que vem no filme no ano de 1999, devido a contenção de despesas nas forças armadas no Reino Unido.

Uns anos depois, na cidade de Portsmouth, ligada históricamente e sentimentalmente à "Royal Navy", surgiram uns grupos de civis e antigos marinheiros que recriaram o "Gun Field", para não deixarem "morrer" esta competição histórica, mantendo assim essa tradição viva.

Fiquem bem

Pipas

O Clube Dumas


Boas tardes amigos(as).
Andando eu numa fase tão profícua em leituras, devido à oportunidade e facilidade que me tem surgido na aquisição de livros e igualmente na disponibilidade de tempo que tenho tido ultimamente para os ler, resolvi então, seguir uma sugestão dada pelos meus amigos Arco-Íris Negro e Paracletus há uns tempos atrás, e que aliada também à leitura anterior de um bom livro do mesmo autor e aqui já descrito anteriormente neste blog, resolvi ler “O Clube Dumas”.
A temática deste livro, é uma intriga policial/mistério onde os actores principais são um livro medieval supostamente destruido pela Inquisição e uma parte manuscrita de “Os Três Mosqueteiros” de Alexandre Dumas.
O enredo gira à volta de um “caçador” de livros antigos, que na sua demanda pelo livro medieval, e que juntamente com o manuscrito de Dumas, cria duas histórias que correm paralelas, mas que se cruzam uma com a outra, criando a confusão e os mal-entendidos na investigação e procura do referido livro.
Nesta história, pode-se encontrar um pouco de tudo, desde romance, mistério, suspense, história medieval e ocultismo. Encontra-se igualmente um paralelismo em certas personagens intervenientes, com as personagens de “Os Três Mosqueteiros” de Dumas, contribuindo com isso para a genialidade deste livro.
Posso dizer-vos para aguçar a curiosidade, que umas das personagens intervenientes é o proprio diabo, que nos aparece de uma forma nunca antes vista.
O autor deste livro é o espanhol Arturo Pérez – Reverte, que nos traz esta história maravilhosa, bastante original, que me deu um enorme prazer a ler.
Existe uma adaptação cinematográfica deste livro, pelo realizador Roman Polansky com o Johnny Depp no principal papel, que se chama “A Nona Porta” (título em português), alguns de vocês provavelmente já o viram, eu por acaso ainda não, mas li as críticas e elas são unânimes em dizer que o filme não chega aos calcanhares do livro. Mesmo assim, vou vê-lo quando tiver oportunidade para tirar as minhas próprias conclusões.
Deixo esta sugestão, se lerem o livro espero que gostem dele tal como eu gostei, entretanto já comecei a ler outro do género do mesmo autor, que se chama “A Tábua de Flandres”, parece ser igualmente interessante, depois irei fazer aqui um comentário do mesmo, quando o terminar de ler.
Fiquem bem.
Pipas

terça-feira, julho 08, 2008

A Vida!!!!!!


Porque será que tudo na vida é tão efémero?

Quando nós pensamos que tudo está bem, e temos a certeza da nossa felicidade e de quem nos rodeia, de quem amamos... Tudo de bom na vida, a felicidade completa...

De repente!!! De onde menos se espera, chega o caos!!!!

Somos atraiçoados!!!!

Tudo acaba... Tudo desaba sobre nós como um castelo de cartas, levado pelo vento...

Todas as certezas que tínhamos, desvanecem-se como a luminosidade num dia de nevoeiro intenso... O desespero de ver tudo terminado, tudo perdido, a vida a escorrer pelos dedos como areia fina, sem se conseguir agarrar de novo, prendê-la, não a deixar ir!!!

A sucessão de imagens na nossa cabeça, a recapitulação da nossa vida, as dúvidas?? O porquê???

O que fiz mal???

Onde errei??

Onde falhei???

E agora??

Recomeçar???

Sim!! Claro!!! Mas como???

Teremos forças para isso??

Temos de ter...

Mas custa, temos de ser fortes... Agarrar a vida pelos "cornos", e seguir em frente, apesar do desgosto e da mágoa, superar estas dificuldades, ao mesmo tempo dá outra alegria de viver, começar de novo e isso sim é a verdadeira essência da vida; a mudança; a adaptação; fazer novos amigos; esquecer antigos amigos; e principalmente nunca baixar os braços, não nos darmos como derrotados, a vida é linda demais para ser desperdiçada por causa de terceiros, principalmente se esses terceiros nos desiludem.

Desculpem este post tão fora do normal e tão intimista, mas enfim às vezes sabe bem deitar umas "palermices" cá para fora...

Abraços e Beijos a todos(as)

Pipas
P.S. Meu amigo A. estou sempre contigo e tu comigo...

segunda-feira, julho 07, 2008

The Blue Man Group

Boas amigos(as), hoje deixo-vos aqui com um grupo que se chama "The Blue Man Group".
Estes senhores têm uma forma nuito particular de fazer música e de a mostrar, um verdadeiro espectáculo musical e visual, espero que gostem.
Fiquem bem
Pipas





sexta-feira, julho 04, 2008

Festival de Teatro de Almada 2008

Boa noite amigos(as), inicia-se hoje dia 04 de Julho e até dia 18 do mesmo, a edição deste ano do Festival de Teatro de Almada.
Este festival, é uma iniciativa que traz diversos grupos de teatro nacionais e estrangeiros, a Almada e também a alguns teatros de Lisboa, a mostrarem o que de melhor se faz no ramo.
Este ano o cartaz é muito bom, trazendo grupos/companhias de teatro extraordinários e peças fabulosas.
Além do teatro propriamente dito, também há actividades paralelas, como exposições, concertos e colóquios.
Na sua 25ª edição, este festival, está de "pedra e cal", sendo mesmo caso único em Portugal no mundo do teatro.
Deixo esta sugestão, para uma noite bem passada, na companhia de amigos.
Fiquem bem.
Pipas

terça-feira, julho 01, 2008

Um Poema por dia


Conheço o Sal

Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minha mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.
Jorge De Sena