sexta-feira, março 21, 2008

Dia Mundial da Poesia


Boa noite amigas(os), hoje comemora-se o dia mundial da Poesia.
Sendo eu um apaixonado pela literatura, e com um carinho especial pela poesia, naturalmente que não podia deixar de passar em claro esta efeméride.
Em vez de escrever aqui um texto sobre a poesia, uma coisa chata e sem sentido, a forma que escolhi para comemorar esta efeméride, foi deixar dois poemas, de autores Portugueses, um da minha geração, o José Luís Peixoto, que para além de poeta é um grande escritor, cheio de talento e que já tem vários livros editados e traduzidos em vários países, incluíndo os Estados Unidos, país cujo mercado literário é muito fechado para os escritores estrangeiros, por isto se pode ver o seu mérito como escritor.
O outro poema é uma cantiga de amigo, os primórdios da nossa literatura, principalmente da nossa poesia, visto ter sido o primeiro género literário a desenvolver-se na nossa história literária, talvez por isso este nosso Portugal tenha sido tão fecundo em Poetas e Poesia.
Pipas



A Casa


eu conhecia a distância entre as paredes. caminhei muitas

vezes pelo corredor. a sala: o sofá grande, a janela fechada

para a rua, o quadro bonito e antigo: a sala: estas palavras e

este verso podiam ser o corredor se as palavras fossem

a tinta nas paredes: a cozinha: a mãe a contar-me

histórias, a mesa, a água que lavava os talheres, o lume do

fogão. a cozinha era onde estávamos felizes.

quero que a casa fique desenhada:

quarto, escada , despensa, sala,

casa de banho, corredor corredor,

cozinha cozinha, escritório.

depois, subia as escadas:

despensa, quarto, quarto,

despensa, corredor, casa de banho,

despensa, escadas, quarto.

depois, descia as escadas.

eu, na cozinha, chamava a minha mãe. a minha voz: mãe.

a minha mãe respondia-me: estou aqui. e estava num dos

quartos de cima. eu subia as escadas para a encontrar.

de manhã, eu acordava e descia as escadas.

sem que eu soubesse, os anos passavam na casa. sem que eu

soubesse, a minha mãe e o meu pai envelheciam. a casa era

toda de claridade e eu não sabia que iria envelhecer assim que

saísse de casa.

havia janelas e havia portas. eu subia para cima de cadeiras

para abrir as janelas. da janela do meu quarto, via o mundo.

sei hoje que poderia ter vivido sem mais mundo do que esse.

sei hoje que transformei o mundo todo nessa casa. chamo a minha

mãe. está num dos quartos de cima. está muito longe. chamo o meu

pai. está muito longe.



José Luís Peixoto

A Casa, a Escuridão

Lisboa, Temas e Debates, 2002



"Tam grave dia que vos conhoci ,

por quanto mal me vem por vós , senhor !

ca me ven coita , nunca vi mayor ,

sen outro ben, por vós , senhor , des i

por este mal que mh'a mim por vós ven ,

come se fosse bem , ven-me por em

gran mal a quem nunca o mereci .



Ca , mha senhor , porque vos eu servi ,

sempre digo que sode'la milhor

do mund'e trobo polo vosso amor ,

que me fazedes gram ben e assy

veed'ora mha senhor do bon sen ,

este bem tal se compre en mi rrem ,

senon , se valedes vós mays per y .

Mais eu , senhor , en mal dia naci .

del que non tem , nem é conhecedor

do vosso bem , a que non fez valor

Deus de lho dar , que lhy fezo bem y ,

per, senhor , assy me venha bem ,

deste gram bem , que el por ben non tem ,

muy poyco del seria grand'a mi .



Poys, mha senhor , rrazon é , quand'alguen

serv'e non pede , já que rem lhi den ;

eu sservi sempr'e nunca vos pedi. "

(D. Afonso Sanches )

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma boa perspectiva da poesia: uma moderna e outra antiga...
O que seria deste mundo se não existisse a poesia?...

- disse...

Eu retribuo com algo completamente diferente... o site que tem online os poemas do The Melancholy Death of Oyster Boy do Tim Burton: http://homepage.eircom.net/~sebulbac/burton/home.html
Eu tenho o livro e acho-o um muffin de chocolate negro com morangos a acompanhar e um blackberry milkshake... isto sendo uma metáfora para esta poesia...

Espero q gostes. Se precisares de ajuda em alguma palavra avisa****